segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Culpa



Dezembro. Grandes festas se aproximam. E com elas, as preocupações usuais com a comida – ou o excesso dela. É o momento em que muitas pessoas questionam como comer sem culpa.
Antes de mais nada, acho importante explorar a origem dessa culpa. Há 30 anos, era incomum escutarmos relatos frequentes sobre pessoas que sentiam culpa ao comer. Meus avós, por exemplo, não sabiam o que era isso. Afinal, eles não seguiam regras rígidas a respeito de como se alimentar, e a comida não tinha nenhum significado moral para eles. Se nenhum alimento é proibido, não há porque sentir culpa. Se encaramos toda refeição como uma oportunidade única de se nutrir e sentir prazer, não há espaço para remorso. Ele não pertence a esse conjunto. Ou seja, ao construirmos uma relação mais saudável e pacífica com a comida, a culpa ao comer certamente perde o sentido e deixa de fazer parte da nossa vida. E isto é muito libertador!

Porém, como alguns de vocês talvez ainda estejam nessa árdua jornada de autoconhecimento e de fazer as pazes com a comida, suponho que comer com culpa ainda seja uma realidade. Então, como lidar com essa emoção, especialmente nas celebrações de final de ano?

1. Enquanto estiver comendo, diga à culpa: “agora não!”. Comemos aquilo que gostamos para sentir prazer mas, ironicamente, muitas vezes nem o sentimos, já que a culpa ao comer aparece logo nas primeiras mordidas. Se esse for o caso, enquanto estiver comendo tente focar nos aspectos sensoriais do alimento: sua aparência, seu aroma, seu sabor. Quando a cabeça se engajar em pensamentos de arrependimento e remorso, respire fundo e metalize “agora não”. Volte então a prestar atenção no momento presente, ou seja, naquilo que está comendo. Tente sentir o prazer que inicialmente você foi buscar.
 
2. Ao terminar de comer, aceite seus sentimentos ao invés de lutar contra eles. Suponha que, ao terminar a ceia de Natal, você se sinta chateado por ter comido dois pratos de sobremesa. Provavelmente, você passará o resto da noite brigando internamente consigo mesmo por ter comido a mais. Isso só o deixará ainda mais chateado. Que tal aceitar suas emoções sem julgamento? Você tem o direito de sentir-se chateado. Como essa chateação se manifesta no seu corpo e na sua mente? Pensamentos de crítica e derrota vêm à tona? Use sua compaixão e trate-se de forma gentil neste momento. Pense o que você pode fazer de melhor por si mesmo a fim de aliviar seu sofrimento momentâneo. Lembre-se que amanhã é outro dia, e que você poderá dar outro passo para melhorar sua relação com a comida.

Espero que essas reflexões os ajudem. Boas festas a todos e até ano que vem!

Um comentário:

  1. Olá Ana Carolina, tudo bem?
    Há 30 anos atrás, a comida não era tão farta como hoje. Minha mãe relata que poucas vezes na semana comia carne, refrigerante era algo de festa, isso aqui na capital- Fortaleza...
    essa facilidade de obter comida processada também ajuda a piorar o sentimento de culpa.
    Antes, era pouca comida e um momento de fartura, uma exceção na rotina. Hoje, estamos superalimentados- ou pelos menos não vivemos mais a escassez de antes.
    Meu pai era realmente pobre. Sua família veio pra capital fugindo da seca, do interior do Ceará. Comer feijão naquela época- há mais de 30 anos atrás- era luxo. Eram todos magros. Vieram para a capital e hoje estão com sobrepeso e doenças crônicas. Os mais velhos não vivem esse medo de engordar, mesmo já com diabetes e pressão alta.
    Eles não viveram essa abundância de comida que temos hoje e por isso não vivem essa necessidade de controle.

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