segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Comida com história – Comer com Atenção Plena e sustentabilidade

 
Esses dias, durante o treinamento profissional do programa Mindfulness Based Eating Awareness Training (MB-EAT), minha amiga e nutricionista que admiro Camila Lafetá usou o termo “comida com história” para se referir a um delicioso queijo frescal que experimentamos. Comida com história é aquela que você reconhece minimamente da onde vem; que passou por poucas transformações da indústria para chegar até você; e que possivelmente evoca memórias de vida prazerosas. Na definição da própria Camila: “comida com história remete ao ingrediente mais natural, à fazenda, ao produtor e a quem escolheu servi-lo. Tem afeto nessa escolha. Se pensarmos em queijo, aquele que é processado e vendido em caixinha (não vou citar marca!) não pertence a ninguém, não remete ao animal, ao leite, ao trabalho de quem o fez. Está afastado da vida, é só uma manufatura sem memória”.
As diretrizes do TheCenter for Mindful Eating (TCME), organização da qual sou membro, diz que uma pessoa que come com atenção plena “é consciente a respeito da interconexão que existe entre a terra e os seres vivos e a respeito do impacto que suas escolhas alimentares têm sobre esse sistema”. Isso significa que esse indivíduo entende que suas escolhas têm um efeito que vai além da sua própria saúde: elas impactam a saúde de todo o planeta, pois estamos todos interconectados.
"Um grão de arroz contém todo universo”, como diz o monge Thich Nhat Hahn. Alguém que come com atenção plena percebe que comer sustentável vai muito além do “comer orgânico”. Comer sustentável é incorporar comidas que tenham história.
E você, quais comidas/bebidas tem consumido? Você sabe a história delas?
Boa semana a todos!

domingo, 9 de outubro de 2016

Sobre furto e nhoque

Acabei de retornar de uma viagem de férias à Itália. Foi uma viagem maravilhosa: pude praticar meu italiano, admirar lindas paisagens e obras de arte e pensar na vida; pude meditar quase todos os dias e com isso enriquecer minha prática de mindfulness (atenção plena). Mas acredito que a prática mais enriquecedora foi no dia em que furtaram meu celular.

Lá estava eu, na maravilhosa confusão que é a ponte Vecchio em Florença, a caminho para o jardim de Boboli (ambos citados no livro “Inferno” de Dan Brown). Minha bolsa estava fechada e eu a carregava em meu ombro. Num determinado momento, percebi que o zíper estava aberto. Senti um calafrio e uma onda de ansiedade crescendo... Ao olhar para dentro dela, um alívio momentâneo: carteira e passaporte estavam ali. Mas não o celular.



Senti o desespero crescendo: estava sozinha, longe de casa, e todas as fotos da viagem até então estavam naquele aparelho. Quase que de repente, percebi as reações do meu corpo e a aceleração da minha mente e comecei a respirar. Uma, duas, três respirações. Ao invés de reagir automaticamente e começar a chorar e a xingar o indivíduo que me furtou (o que eu certamente teria feito num passado não tão distante), continuei parada e respirando por mais um minuto ou dois. Sentei num banco e tirei todas as coisas da bolsa para ter certeza de que o celular de fato não estava ali. Perguntei a um vendedor de bolsas que estava na calçada onde poderia encontrar os carabinieri (polícia). Enquanto caminhava até o local, tomei consciência da minha ruminação mental: “por que eu? Qual a chance de não ser roubada no Brasil e sim na Europa? Espero que o FDP que me furtou receba o que merece algum dia!”.

Ao me dar conta do meu sofrimento, tentei exercitar a compaixão: “tudo bem Carol, pelo menos você está bem. Não deixe isso estragar sua viagem, afinal, isso pode acontecer com qualquer um. Nada justifica um furto, mas vai saber o que levou essa pessoa a te furtar...” (essa parte confesso que foi difícil!). Depois de fazer a denúncia à polícia, encontrei uma loja da Apple, bloqueei o aparelho e fui almoçar.

Ao sentar no restaurante, a cabeça latejando, disse a mim mesma que o melhor a fazer naquele momento era aproveitar ao máximo o almoço, pois de nada adiantaria alimentar pensamentos de vitimização. Então decidi que aproveitaria a oportunidade para fazer uma refeição com atenção plena. Pedi um nhoque caseiro com molho de queijos e pera glaceada. Senti a textura de cada bolinha macia, o sabor, a temperatura. Senti o estômago sendo apaziguado, a fome física indo embora e o conforto emocional que se instalava em meu corpo. Ao final, agradeci a mim mesma por ter me permitido apreciar uma das mais deliciosas refeições da minha vida, coisa que não teria acontecido se minha mente não estivesse 100% engajada e presente naquele momento (talvez ainda ruminando o infortúnio de ter sido furtada). Agradeci também à comida, por ser muito mais que um amontoado de nutrientes, por alimentar não só meu corpo, mas também minha mente e minha alma.

Boa semana a todos!