Confesso que me veio uma sensação de estranhamento... Por que colocar como estampa de uma camiseta pra crianças um macaquinho dizendo “dá um potássio aí” ao invés de simplesmente “dá uma banana aí”? Qual a relevância prática de uma criança saber que a banana tem potássio?
Isso é reflexo do que chamo de “nutricionismo na infância”:
a crença de que vamos ensinar/convencer as crianças a comerem melhor pura e
simplesmente por meio da educação nutricional: dizer a elas quais alimentos são
saudáveis e quais não são, quais são os nutrientes que existem em cada fruta,
verdura, legume... Ok, a informação de que tem potássio na banana é verdadeira,
mas saber disso não necessariamente faz com que uma criança – ou mesmo um
adulto! – coma mais a fruta. Isso seria muito reducionista. Comemos banana porque
é gostosa, porque é prática, porque tem sempre em casa, porque me sinto saciada
quando como...
O que, então, faz com que as crianças comam melhor e desenvolvam
uma relação mais saudável com a comida? De forma bem simples: fazer com que
elas se aproximem dos alimentos de forma neutra, lúdica e não julgadora,
valorizando sempre as refeições em família e o prazer alimentar – quer ele venha
de uma deliciosa cenoura laranjinha e docinha ou de um brigadeiro molinho e saboroso
da festa de aniversário.
Tenho uma amiga nutricionista, a Maria Luiza Petty,
que trabalhou bastante tempo dando aulas de culinária em escolas infantis, onde
os alunos entravam em contato com alimentos in
natura (e não já embalados em pacotes de supermercado!) e podiam eles
mesmos preparar receitas deliciosas. Aprendizado por meio da curiosidade, do
prazer e da culinária! Ela inclusive escreveu um livro chamado “Lugar de
criança é na cozinha”, que pode ser comprado aqui.
A nutricionista americana Ellyn Satter propõe ainda uma divisão
de responsabilidades entre as crianças e aqueles responsáveis pela sua
alimentação (como os pais, por exemplo): os adultos devem se encarregar pelo que será servido, quando (que horários) e onde,
enquanto que a responsabilidade das crianças é escolher o que e quanto/se vão
comer. Ou seja, não é papel das crianças decidirem que hoje no jantar vai ter hambúrguer se a mãe já havia decidido preparar arroz, feijão, bife e salada; assim como não é papel dos pais insistirem para que os filhos comam mais sendo que eles disseram que já estão satisfeitos. Para saber mais, vejam aqui.
Então, chame seu filho/irmão/primo para assistir “Ratatouille”
e em seguida se aventurarem na cozinha preparando juntos o prato tema do filme.
Se tiver bolo de cenoura com calda de chocolate de sobremesa melhor ainda :)
"Qualquer um pode cozinhar"
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