Na minha graduação em Nutrição, tive uma disciplina chamada
Bioética. A Bioética é o estudo das implicações morais e éticas que surgem
quando se trabalha com a saúde dos seres humanos. Lembro que as aulas
costumavam ser polêmicas e por vezes consideradas “chatas”. Costumávamos
pensar: “nossa, eu tenho bom senso, eu sei agir com ética, não preciso estudar
sobre isso...”
Será que não?
Um dos princípios da bioética é aquele derivado do termo em
latim do título ("primum non nocere"), ou do conhecido termo em inglês “first do no harm”: é o
princípio da não maleficência. Ele propõe que o profissional não deve inflingir
dano intencional ao seu paciente. Ou seja, se não puder fazer o bem, pelo menos
não faça mal. Parece óbvio, mas acho que nos perdemos ao longo do caminho.
Quando colegas nutricionistas (nem vou aqui entrar no mérito
de blogueiros e perpetuadores da pseudociência) vinculam seu trabalho a esse
tipo de imagem acima nas redes sociais, acredito que de certa forma eles
estejam infringindo o princípio da não maleficência. É claro o desespero do
bonequinho ao se dar conta de que ele estava “quebrando” a dieta, comendo algo “proibido”. Qual a resposta a isso? Cuspir. Essa ilustração, na minha opinião, só incentiva
a neurose alimentar em que estamos vivendo e os comportamentos e atitudes
transtornados na nossa relação com a comida.
Tenho pacientes com transtorno
alimentar que fazem justamente isso quando querem purgar, ou seja, compensar algo
que comeram e que acreditam que não deveriam: eles cospem, vomitam. E sofrem
com isso, pois têm uma doença que os leva a agir dessa maneira. E muitas vezes,
um dos gatilhos para o surgimento de transtornos alimentares são imagens como
essas, que quando publicadas por profissionais de saúde adquirem peso maior.
Nós, profissionais de saúde, temos que nos dar conta do
potencial influenciador que temos sobre os indivíduos quando vamos passar uma
mensagem. E temos que tomar cuidado para que elas não contenham em si potencial
danoso sobre alguns indivíduos potencialmente sugestionáveis.
Tambem vi essa mensagem no instagram e achei absurda.
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