Há um tempo, escrevi aqui no blog sobre um livro infantil americano chamado “Maggie
goes on a diet” (“Maggie faz uma dieta”, em tradução livre). Ele fala sobre
uma criança que começa a fazer uma dieta para perder peso, e conforme vai
obtendo “resultados” é amplamente incentivada e “aplaudida”. A descrição do
livro coloca que:
“Esse livro é sobre uma garota de 14
anos que entra numa dieta e é transformada de uma garota extremamente insegura
e com sobrepeso em uma garota de tamanho normal que se torna a estrela do time
de futebol da escola. Por meio de tempo, exercício e trabalho duro, Maggie se
torna mais e mais confiante e desenvolve uma autoimagem positiva.”
Basicamente,
o livro cai na famosa falácia de que se você perder peso, sua vida vai mudar
pra melhor: tchau insegurança, olá realizações, agora eu me amo. Mas é claro
que não é tão simples assim. Quem trabalha com questões de alimentação e corpo
e as próprias pessoas que sofrem com essas questões sabem que essa afirmação é bastante reducionista.
Além
disso, como eu bem escrevi na época, acredito ser maléfico incentivar crianças
de 4 a 8 anos (público-alvo do livro) a fazerem dietas, e já existem inúmeros
estudos que confirmam que dietas são um fator de risco poderoso para o
desenvolvimento de alimentação transtornada, transtornos alimentares, para o
ganho de peso e para o desenvolvimento de uma pior autoestima e uma pior imagem
corporal (para ler mais sobre esses achados, sugiro as publicações científicas
da nutricionista americana Dianne Neumark-Sztainer, que podem ser encontradas
no Pubmed).
Em
contraponto a este livro, a americana Judith Matz, que
trabalha há 25 anos como terapeuta especializada no tratamento de transtornos
alimentares, escreveu o livro infantil “Amanda’s
big dream” (“O grande sonho de Amanda”, veja aqui).
Ele fala sobre uma jovem patinadora que ouve de sua técnica que está muito
gorda, e por isso se desanima e para de patinar (pra quem acha que informar o
outro sobre seu grau de obesidade pode ser algo positivo e motivador, sinto
dizer que o efeito é justamente o contrário). Porém, após um reforço positivo
de seus pais e de sua médica, que disseram que o tamanho de seu corpo não era
um problema e de que ela poderia alcançar seu sonho de se tornar uma grande
patinadora por meio de seu esforço e prática na modalidade, ela voltou aos
treinos e viu que o importante era fazer aquilo que de fato amava,
independentemente dos resultados.
A obra traz lustrações belíssimas e algumas importantes mensagens para a geração
mais nova:
1. Seu corpo não é um impeditivo para que você seja feliz e tenha
saúde.
2. A saúde pode vir em todos os tamanhos. O que importa não é o peso, e sim
seu estilo de vida e o engajamento em comportamentos que de fato promovem saúde: dormir bem e em quantidade suficiente, comer uma ampla variedade de alimentos e comidas, se alimentar de acordo com seus sinais de fome e parar de comer quando
estiver satisfeito, praticar atividade física regular e que traga prazer...
Em
resumo: a felicidade não pode ser medida em quilos e seu valor como pessoa não
pode ser dependente do tamanho do seu corpo.
Pense
nisso!