Nestes últimos cinco dias, participei na Associação Palas
Athena (associação sem fins lucrativos cuja missão é “aprimorar a convivência humana
desenvolvendo ações educativas por meio da aproximação das culturas e
articulação dos saberes”, saiba mais aqui) de um treinamento em compaixão com dois monges budistas. Um deles, inclusive,
criou o que se chama de Treinamento em Compaixão na Abordagem Cognitiva
(Cognitive Based Compassion Training ou CBCT), um
programa que busca melhorar a qualidade de vida de diversas populações e que vem sendo avaliado por meio de estudos científicos (veja uma explicação mais detalhada sobre o
método e sobre as pesquisas realizadas aqui).
O treinamento foi intenso e cansativo. Afinal, falar e
praticar compaixão pode ser um tanto quanto difícil! Inclusive, o momento em
que mais precisamos praticar compaixão é justamente quando ela é mais
difícil... Mas fiquei muito feliz em ter participado, pois acredito que me
tornou uma nutricionista melhor. Explico.
Um dos pontos que foi muito reforçado no curso, inclusive
por meio da exposição de estudo científico que comprovou o fato, é que treinar
compaixão – por meio de meditações e do cultivo da empatia, por exemplo –
aumenta a reatividade de uma área de nosso cérebro chamada amígdala, importante
na autopreservação da espécie já que é o centro identificador de situações de “perigo”
e está envolvida na produção de uma resposta a emoções como medo e ansiedade.
Ou seja, o estudo mostrou que, ao serem expostos a imagens negativas, os
indivíduos que passaram por treinamento de compaixão se tornaram mais sensíveis
a estas imagens, mas apresentaram menores escores de depressão do que os
indivíduos não treinados. Isso significa que, apesar de terem sido expostos a
imagens de sofrimento alheio, conseguiram expressar maior empatia mas mantendo
um “distanciamento” saudável, sem “mergulhar” na situação negativa do outro.
Ora, empatia e compaixão são qualidades primordiais para qualquer bom terapeuta
nutricional! De outra forma, não conseguiríamos ajudar de forma consistente
nossos pacientes com suas dificuldades. Nos sentiríamos sobrecarregados demais
e poderíamos nos contaminar com uma sensação de desesperança.
Outra questão é que, no treinamento de compaixão, um dos
primeiros passos é desenvolver e aprimorar a nossa autocompaixão. Não podemos
verdadeiramente sentir compaixão pelo outro se não sentimos por nós mesmos. E como eu já coloquei em alguns outros posts, autocompaixão implica
em deixar de lado a culpa e aceitar nossas falhas, nosso caráter imperfeito,
nossos desejos íntimos... Enfim, quem nós somos de fato. Implica em
autoconhecimento.
A grande questão é que aceitação não significa
passividade. Porém, enquanto estivermos imersos em culpa e julgamento, não
poderemos enxergar a situação que tanto nos incomoda por uma perspectiva mais
ampla, para podermos então encontrar um novo caminho. E eu vejo isso direto com
as pessoas que buscam minha ajuda para mudar sua relação com a comida, mas que
têm muita dificuldade nesse processo por se julgarem ou se criticarem demais.
Então, sou muita grata por esse curso pois contribuiu na
minha evolução como nutricionista. Na minha evolução como pessoa. E espero que
o exercício da compaixão possa ajudá-lo também.
MAravilhosa!
ResponderExcluirAchei muito interessante sua colocação sobre distanciamento E empatia ("apesar de terem sido expostos a imagens de sofrimento alheio, conseguiram expressar maior empatia mas mantendo um “distanciamento” saudável, sem “mergulhar” na situação negativa do outro”).
ResponderExcluirTenho pensado muito em como isso é difícil. Outro dia, por exemplo, recebi uma noticia ruim, um amigo cujo filho recebeu um diagnostico de leucemia, e fiquei arrasada por dias, como se eu mesma tivesse recebido o diagnostico. Percebi como aquilo me afetou negativamente sem que pudesse ajudar meu amigo. E em como preciso aprender isso. Mais uma para a lista de “competências a adquirir, de preferencia, ainda nessa vida” ;)
Achei muito interessante sua colocação sobre distanciamento E empatia ("apesar de terem sido expostos a imagens de sofrimento alheio, conseguiram expressar maior empatia mas mantendo um “distanciamento” saudável, sem “mergulhar” na situação negativa do outro”).
ResponderExcluirTenho pensado muito em como isso é difícil. Outro dia, por exemplo, recebi uma noticia ruim, um amigo cujo filho recebeu um diagnostico de leucemia, e fiquei arrasada por dias, como se eu mesma tivesse recebido o diagnostico. Percebi como aquilo me afetou negativamente sem que pudesse ajudar meu amigo. E em como preciso aprender isso. Mais uma para a lista de “competências a adquirir, de preferencia, ainda nessa vida” ;)