segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Halloween horripilante

E mais uma vez os Estados Unidos – um dos países que mais sofrem com a incidência de transtornos alimentares – se superaram. Negativamente.

Uma empresa ironicamente chamada de “Dreamgirls” (que pode ser traduzido por “Garotas dos sonhos”) está vendendo para este Halloween (31/10) uma fantasia chamada “Anna Rexia”, termo que faz alusão à anorexia nervosa. Ela vem com uma fita métrica enrolada na cintura e uma “medalhinha de honra”.


Senso de humor para alguns, desejo de consumo para outros (ou outras, já que só existe a versão feminina da fantasia, graças a Deus!)... Para mim, soa mais como absurdo. Acho que não sou só eu que acredita que esse tipo de fantasia pode gerar um impacto negativo na cabeça de algumas crianças e jovens, que podem ver a doença como algo “glamouroso” ou mesmo banal. Até porque essa fantasia foi colocada no mercado em 2011 e depois de uma petição online as vendas foram descontinuadas... Até agora.

“Que exagero!”, alguns vão dizer. Mas quem trabalha com transtornos alimentares sabe que não podemos arriscar, nem mesmo um pouco. E quem conhece sabe que os fatores que predispõem e precipitam um transtorno alimentar podem ser muito sutis. Como uma simples fantasia de Halloween...

sábado, 19 de outubro de 2013

Se Dê Conta 2013: Semana de Conscientização Sobre Transtornos Alimentares e Obesidade

Como alguns leitores já sabem, eu faço parte do Genta – Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares. Somos nutricionistas (e temos a honra de contar com a participação de uma educadora física no grupo!) que estudam e trabalham com transtornos alimentares e que questionam os padrões de beleza e a definição do que é de fato uma alimentação saudável.

Todo ano, organizamos o “Se Dê Conta: Semana de Conscientização Sobre Transtornos Alimentares e Obesidade”, que é um período no qual nos mobilizamos para de alguma forma alertar o público sobre a seriedade dos transtornos alimentares e sobre e os fatores que contribuem para o surgimento e manutenção dessas doenças, como por exemplo a propagação e internalização de ideais de beleza e alimentação.

No “Se Dê Conta 2013”, a ideia é usar as redes sociais (Facebook do Genta e Instagram @sedeconta) para postar imagens contestadoras sobre imagem corporal, padrão de beleza e alimentação saudável. Vejam o cartaz de chamada:


Nesta semana que passou, nós, integrantes do Genta, divulgamos as nossas próprias fotos para “servirem de exemplo”. Eu resolvi tirar foto da minha barriga (parte do meu corpo que eu não gosto tanto) com a palavra “herança” escrita nela. Sim, porque afinal ela é igual a da minha mãe (que também saiu em uma das fotos)! E reconhecer isso melhorou a relação que eu tenho com meu corpo e minha barriga.



E abaixo estão algumas outras fotos que já foram divulgadas na página do Genta no Facebook:


E vocês, o que estão esperando?? Tirem já suas fotos e mandem pra nós!!! As instruções estão no cartaz.

Participem conosco dessa “revolução”!!!

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

"Do que eu mais sinto falta de quando eu era gorda"


Bom dia pessoal!

Essa semana resolvi postar uma tradução livre feita por mim de um texto publicado na Marie Claire americana em julho de 2012, escrito pela jornalista Sarah Elizabeth Richards. Ele conta do que ela sentiu falta em seu corpo - e em sua vida - depois que emagreceu quase 20kg. Afinal, emagrecer não é tão simples assim e não necessariamente traz só coisas boas no processo...

Aproveitem!

"Do que eu mais sinto falta de quando era gorda..."

"Eu estava em pé no bar, segurando minha margarita de manga, enquanto minhas duas amigas estavam conversando com dois caras. Senti que estava 'sobrando' e tentei fazer contato visual com um cara muito fofo perto da porta. Ele me ignorou.

'Fique mais um pouco', disse a mim mesma. 'Você só está aqui há uma hora'.

Não foi assim que eu imaginei meu gran debut. Tinha acabado de terminar um relacionamento de longos anos, e minhas amigas insistiram que eu deveria passar a noite com elas num bar cheio de homens desejáveis.

Recentemente eu havia perdido 18 quilos (aumentando meu consumo de vegetais e grãos integrais e reduzindo a ingestão de açúcar, massas e pães). Segui o conselho de minhas amigas de usar roupas que mostrassem mais o meu corpo e lá estava eu no bar, sentindo-me inadequada.

O ar condicionado estava no máximo, e eu senti o ar gelado em cada pedacinho na minha pele exposta – meus braços, minhas pernas, meu decote. Mas ao invés de me sentir sexy, eu me senti pelada.

'Estou realmente cansada', disse a minhas amigas. 'Estou indo'.

Ao chegar em casa, abri meu guarda roupa e achei minhas antigas roupas de quando era gorda. Enterrei meu rosto no que costumava ser minha camiseta preferida e senti o cheiro de um antigo perfume. Eu a vesti, minha ansiedade me dominando. Me senti eu mesma novamente.

De vez em quando, eu sentia falta de ser gorda.

As pessoas vivem falando sobre os benefícios da perda de peso, mas não se fala muito sobre o choque que é emagrecer. Quando você decide emagrecer, você só pensa nas coisas boas: novo corpo, saúde melhorada (e, se você se engaja em pensamentos milagrosos, uma nova vida). Ninguém te alerta sobre o outro lado.

Fisicamente, eu sentia frio o tempo todo, bem como uma dorzinha palpitante do lado esquerdo das minhas costelas – a sensação que sinto sempre que estou vulnerável. Emocionalmente, eu não me sentia preparada para lidar com todas as mudanças, e não podia mais usar a comida para me acolher.

E então veio o desapontamento. Nas minhas fantasias, eu parecia mais confiante e mais bem vestida. Eu tinha mais amigos e namorados. Eu me tornava uma melhor profissional. Quando eu era gorda, essas fantasias ficavam armazenadas em segurança, na ideia de que “um dia” isso se tornaria realidade. Na minha cabeça, eu não cogitava ter que descobrir o limite dos meus talentos, encarar meus medos de intimidade, ou mesmo confrontar o quão esquisita me sinto ao conhecer novas pessoas.

Quando eu perdi peso, eu tomei um banho de realidade. Eu continuava sendo eu mesma, com os mesmos problemas. Eu só estava menor.

E a minha versão menor não necessariamente se tornou uma versão melhor – pelo menos não no início. Eu adorei ver as novas curvas de meu corpo, mas nunca me imaginei nua em frente ao espelho, pegando nas mãos a pele solta debaixo dos meus braços e na parte interna das minhas coxas. Ou que eu veria meus seios ficarem mais flácidos, e meu bumbum ficar ainda mais caído. Eu me sentia uma estranha em meu próprio corpo.

Havia também as questões do dia a dia. Os experts em dieta não te contam o quão desconfortável você se sente no início por não poder mais comer o quanto você comia antes. Ou como quase todas as interações sociais incluem referências sobre seu novo corpo. No começo é legal ouvir “uau, como você está linda!”, mas depois isso se torna angustiante, pressionador. Tinha momentos em que eu simplesmente não queria toda a atenção voltada para mim. Eu só queria o conforto do grupo.

Não estou dizendo que quero de volta minha gordura. Eu trabalhei duro para perder todo o peso extra que ganhei na faculdade porque me afundei em lasanha e comida delivery para conseguir lidar com toda minha carga de trabalho. Hoje, peso 63kg, um peso que tenho mantido há quatro anos. Levei quase sete anos para atingi-lo. Para mim, essa foi a velocidade ideal, pois me permitiu lidar aos poucos com as novas questões que foram surgindo. Além disso, deu tempo para que minha pele (inicialmente flácida) se acomodasse novamente (com ajuda da ioga e do kickboxing, dois exercícios que adoro). Perder os últimos sete quilos levou quase três anos. Parecia que eu não estava mais levando tão a sério meu status de 'quase magra'.

Eu gostaria de dizer que eu aprendi a me sentir melhor com meu corpo naturalmente, por meio de um processo orgânico de celebrar meus pontos fortes e aceitar minhas falhas. Ao invés disso, eu me forcei a me sentir bem, como se estivesse entrando aos poucos em uma piscina gelada.

Eu ainda luto com a sensação de parecer nua às vezes, mas isso não mais me deixa ansiosa. Nas raras ocasiões em que parece que não vou aguentar, eu me enrolo num grande robe de cetim até passar (sim, eu me livrei das minhas roupas de quando era gorda).

Então, eu ponho minhas novas calças de ioga, que abraçam minhas novas curvas.