sexta-feira, 27 de setembro de 2013
A verdade sobre permissão alimentar
Já escrevi alguns posts que falavam sobre permissão alimentar (aqui e aqui), mas decidi dedicar um post inteiro a este tema pois acho que ele é de extrema importância para quem quer adotar uma alimentação saudável e ser feliz.
Basicamente, permissão alimentar é poder comer o que quer que seja que você goste e tenha vontade no momento em que você tem vontade. Simples assim.
Permissão alimentar não é comer um pedaço de bolo só em aniversários e no final de semana porque você considera tais ocasiões como “politicamente corretas”.
Permissão alimentar é poder comer dois pedaços daquele bolo delicioso de vez em quando só porque está muito bom. E assumir que às vezes é melhor deixar o segundo pedaço pro dia seguinte porque já se está satisfeito. E você sabe que de fato poderá comê-lo amanhã.
Permissão alimentar não é sinônimo de “autoindulgência” ou de “ligar o fod*-se”, como alguns gostam de colocar. Mesmo que nesses momentos você de fato coma o que estava com vontade, e coma até mesmo em excesso. Porque provavelmente você vai comer desejando não ter comido. E vai se massacrar por isso.
Quando há permissão alimentar não existe espaço para culpa, arrependimento e “auto-bullying”. Portanto, se você vai comer dizendo que vai “fazer uma gordice”, você não está se permitindo de fato. Você está moralizando a comida e assumindo que só quem é gordo pode comer determinados alimentos (sugiro a leitura do texto da Nina Lemos na edição deste mês da revista TPM).
Permissão alimentar previne exageros alimentares (por mais que isso pareça paradoxal).
Permissão alimentar requer coragem, autoconhecimento e trabalho ativo.
Permissão alimentar faz parte do seu autocuidado.
Permissão alimentar, a meu ver, é um conceito básico de qualquer programa de reeducação alimentar eficaz e duradouro.
E vocês, o que pensam?
Bom final de semana a todos!
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Mecanismo de saciedade em obesos pode estar comprometido
Um estudo recente da Universidade de Adelaide (Austrália) verificou em laboratório o impacto de uma dieta rica em gordura na capacidade do nosso estômago sinalizar ao nosso cérebro que já podemos ficar satisfeitos. O que se percebeu foi o seguinte: em ratos obesos por consumirem uma dieta rica em gordura, os neurônios que fazem essa sinalização ficam menos sensíveis, e esse efeito permanece mesmo após os ratos perderem peso. Ou seja: pessoas obesas que mantiveram uma alimentação rica em gordura por longos períodos e perderam peso após uma dieta podem voltar a ganhar peso por conta dessa alteração no mecanismo de saciedade, já que vai demorar mais para ficarem satisfeitas.
Mais uma evidência de que a história de que “só é gordo quem quer” não tem fundamento científico...
Mais uma evidência de que a história de que “só é gordo quem quer” não tem fundamento científico...
domingo, 8 de setembro de 2013
O mito do não merecimento
“Eu não mereço comer esse bolo pois sou moreno”.
Você já ouviu alguém dizer isso? Pois é, eu também não. Pois não faz sentido algum! O que tem a ver a pessoa ser de uma determinada maneira e comer ou não um pedaço de bolo?
Mas quando se trata de pessoas gordas, usamos esse raciocínio. É comum o pensamento, inclusive por parte de pessoas gordas, que elas não podem:
- comer doces
- comer frituras
- comer o que quer que seja que tenham vontade, exceto se for alface
- usar roupas curtas
- usar roupas justas
- usar biquíni
- sentir-se atraentes
- etc etc etc
Algumas questões para reflexão:
- Da onde veio a ideia de que o indivíduo deve ter um corpo x ou y para MERECER comer ou se vestir da maneira como deseja? Será que só os magros tem liberdade de escolha?
- E se a pessoa não emagrecer nunca, ele terá sua liberdade cerceada para sempre?
- O que temos a ver com a escolha alheia, a não ser que nossa opinião seja solicitada diretamente?
- O pior de tudo: e se a pessoa emagrecer e se dar conta de que sua autoestima e seu senso de valor próprio continuam baixos, e ela continuar não se achando digna? Pois eu já vi isso acontecer diversas vezes.
Eu acredito que temos que nos respeitar e nos sentir merecedores de cuidado, não importando nosso tamanho corporal.
Eu acredito que temos que assumir nossas vontades.
Eu acredito que temos que valorizar mais o agora. Pois de fato é só ele que nós temos.
segunda-feira, 2 de setembro de 2013
Dieta que funciona é aquela que vende
Este final de semana (31/8) foi dia do nutricionista! Que alegria! Me sinto muito feliz por ter escolhido uma profissão que gosto muito e por meio dela poder ajudar as pessoas a terem uma relação melhor com a comida. Inclusive, fui comemorar comendo um Big Mac: fazia muito tempo que não comia, e era “Mc Dia Feliz”, aproveitei para ajudar as crianças com câncer!
Mas como nem tudo é comemoração, vamos aproveitar para refletir um pouco. Saiu na semana passada o resultado da pesquisa Vigitel 2012 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), que mostrou que mais da metade da população adulta brasileira (51%) está com excesso de peso. Em 2006, a taxa era de 43%.
Por que isso está acontecendo? Existe uma série de fatores envolvidos, mas um dos motivos, na minha opinião, é óbvio: estamos falhando com nossos pacientes. Continuamos usando a mesma estratégia de sempre (dieta) para lidar com o fato da população estar comendo mais e pior.
Mas se as dietas de fato funcionassem, essa porcentagem não estaria aumentando. Dietas acabam com o metabolismo. Dietas pioram a relação da pessoa com seu corpo e com a comida. Dietas aumentam a probabilidade da pessoa comer em resposta às emoções. Dietas aumentam muito o risco de desenvolver transtornos alimentares. O ciclo das dietas é algo que ocorre com 99% dos indivíduos, levando ao famoso “efeito sanfona”.
Então vamos para a segunda pergunta: por que muitas pessoas continuam apostando nas dietas? Porque o mercado das dietas é extremamente lucrativo e movimenta mais de 6 bilhões de dólares ao ano em todo o mundo. Ele é extremamente competente em promover insatisfação para depois poder vender a “solução”: são inúmeros os livros, revistas, pílulas, suplementos, equipamentos de ginástica, cintas, programas de dieta, shakes...
Pois digo aqui que sou nutricionista e não acredito em dietas. Não prescrevo dietas. Trabalho verdadeiramente com reeducação alimentar. Sou como um salmão nadando contra a corrente, mas o que me dá forças é a certeza de estar bem acompanhada pelos meus colegas do GENTA (Grupo Especializado em Nutrição e Transtornos Alimentares) e pelos meus pacientes, que acreditam num trabalho diferente pois já sofreram demais com as inúmeras consequências negativas das dietas. E toparam me acompanhar num caminho diferente, que promove aceitação corporal, autonomia alimentar e autoconhecimento. É um caminho mais difícil, porém duradouro.
Para terminar, um texto de uma americana que trabalhou anos a favor da indústria das dietas. E pede desculpas por isso.
Boa semana a todos!
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