domingo, 6 de maio de 2012

"Doutora, eu quero emagrecer... Mas o problema é que eu gosto de comer!"


Quando ouço isso dos meus pacientes, eu digo: "que bom!". E é verdade, não? Afinal, comer é uma das únicas coisas que faremos até o último dia de nossas vidas. Se a pessoa não gostar de comer, imagine que vida chata ela vai levar?

Mas eu entendo que quando os pacientes me dizem isso eles querem na verdade dizer: “doutora, eu acho que por gostar muito de comer eu como demais”; ou então: “doutora, quando eu como alguma coisa que eu acho que não deveria ter comido, sinto-me extremamente mal e culpado por isso”.

O problema não é gostar de comer. É a culpa que vem junto.

Quem gosta de fato de comer sente prazer. E sentir prazer durante o ato alimentar pressupõe permissão incondicional para comer de tudo, ou seja, a pessoa que gosta de chocolate se permite comer chocolate sempre que sente vontade, e não fica mal ou culpada por causa disso. Ela sabe que sempre que quiser chocolate vai poder comer, e justamente por isso ela não sente vontades loucas de comer esse alimento a todo momento. Ela não acha que chocolate é a melhor coisa que existe. Ela sabe que existem outros prazeres na vida. E ela se satisfaz com pouco.

Gostar de comer é apreciar o alimento quando se está comendo, é permitir-se aproveitar a experiência como um todo: observar as cores e a textura do alimento, sentir o cheiro, comer lentamente, saboreando, e ficar feliz com isso. E não comer depressa, desejando não ter comido, não se permitindo nem sentir o gosto. Gostar de comer é entender que a comida é uma forma de auto-cuidado, e não uma forma de se machucar.

Relacionado a este tema, encontrei um artigo bastante interessante (veja aqui) publicado na conceituada revista científica Appetite, em 2010. Ele avaliou 82 pessoas com sobrepeso ou obesidade e percebeu que aquelas que apresentavam anedonia (isto é, a perda da capacidade de sentir prazer) apresentavam mais episódios de compulsão alimentar e de comer emocional, além de perderem menos peso durante o estudo.

Ou seja, a ideia é sentir prazer com a comida. E não o contrário.

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