quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Uso de metformina reduz risco de câncer em pacientes diabéticos

Lendo hoje a última edição da revista da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), entidade da qual faço parte, vi um texto entitulado “Metformina: nova arma terapêutica para o câncer?”. Isso me fez adiantar a publicação deste post, que ia deixar mais para frente. Mas vamos lá!

Uma recente compilação de estudos, divulgada no site “Drug Discovery and Development” (http://www.dddmag.com/Diabetes-Drug-May-Reduce-Cancer-Risk1-19-12.aspx), indicou que o uso de metformina em pacientes diabéticos reduziu o risco de câncer. Esta droga, comumente usada por pacientes com diabetes tipo 2, parece reduzir o processo de mutação celular e o acúmulo de danos ao DNA, fatores que estão diretamente envolvidos na carcinogênese.

São necessários mais estudos para indicar o uso da droga com a finalidade de prevenção do câncer, ainda mais em pacientes não diabéticos. Entretanto, os resultados das últimas pesquisas são promissores.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Entendendo a motivação para o tratamento nos transtornos alimentares – parte 2

E vamos dar seguimento ao assunto abordado no último post. No artigo “The myths of motivation: time for a fresh look at some received wisdom in the eating disorders”, a autora coloca também algumas reflexões interessantes sobre estratégias motivacionais usadas no tratamento de pacientes com transtornos alimentares:

1. Demonstrar empatia não basta. É necessário adotar uma postura mais firme e pragmática, estabelecendo limites e as variáveis “não-negociáveis” do tratamento (no caso do tratamento nutricional, um exemplo seria o preenchimento do diário alimentar).
2. O melhor indicativo de motivação por parte do paciente é de fato a mudança de comportamento (parece óbvio, mas nem sempre é!).
3. Desde o início do tratamento, o paciente deve entender que a responsabilidade de mudar é dele, que o tratamento é apenas um facilitador.
4. Metas de tratamento não cumpridas devem ser sempre retomadas.
5. Se uma estratégia não está sendo eficaz no tratamento, mude um pouco a abordagem. Não se pode esperar resultados diferentes agindo de uma mesma forma. Afinal, a mudança é um processo ativo, e não algo que “simplesmente acontece”.
6. Se depois de um certo tempo de tratamento o paciente não estiver se engajando nas mudanças comportamentais necessárias para sua melhora, não é errado o profissional admitir que não sabe como ajudá-lo e pedir sugestões de como fazê-lo. Pelo contrário! Isso pode ser bastante produtivo para o tratamento. A relação terapêutica se torna mais forte quando há honestidade de ambas as partes.

E vocês leitores, concordam com essas estratégias? Comentários são sempre bem-vindos e respondidos!

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Entendendo a motivação para o tratamento nos transtornos alimentares

Li esses dias um artigo muito interessante e gostaria de compartilhar um pouco dele com vocês. O título é “The myths of motivation: time for a fresh look at some received wisdom in the eating disorders”, e já está na lista de artigos no canto direito do blog. Minhas reflexões aqui não refletem seu conteúdo total, por isso sugiro que vocês de fato o leiam!

A autora começa colocando que, no campo dos transtornos alimentares, muito se valoriza o engajamento do paciente na construção de um vínculo com os profissionais e seu engajamento na mudança ativa e gradativa de comportamentos. Entretanto, a autora coloca que deve ser considerado o fato de que muitos pacientes desenvolvem um senso de “desesperança”, de que são “um caso perdido”, apesar de quererem se ver livres da doença. Essa negatividade pode vir da longa duração do transtorno, quer seja porque o paciente não buscou tratamento previamente ou porque passou por intervenções e tratamentos ineficazes. Muitas vezes, para complicar a situação, essa desesperança acaba sendo compartilhada por familiares e amigos do paciente, quando não pela própria equipe multiprofissional. Usar frases como “o paciente é crônico” ou “o paciente não está preparado para o tratamento” podem despertar e revelar esse tipo de sentimento.

A autora define o conceito de “motivação para mudança” como sendo a disposição e a habilidade para mudar um determinado comportamento. Para isso, o paciente deve entender a importância desta mudança e deve se sentir confiante para realizá-la. Na área dos transtornos alimentares, segundo a autora, a melhor avaliação da motivação para mudança deve ser a habilidade, ou seja, o que o paciente coloca de fato em prática, e não a disposição, aquilo que ele diz que vai fazer. Assim, ela sugere que uma maneira de limitar o sentimento de frustração que pode surgir é encarar a motivação expressa por meio de palavras como um “manifesto”: o paciente tinha a intenção de colocar em prática o que disse, mas a realidade de executar se mostrou árdua demais.

Como encarar estes manifestos dos pacientes, já que eles não significam de fato que uma mudança concreta está por vir? A autora diz que eles têm vários papéis no curso do tratamento: expressar vontade de mudar, mesmo sabendo que será difícil; deixar familiares e amigos mais tranquilos; demonstrar a necessidade de carinho e atenção; obter distanciamento de responsabilidades e compromissos... Muitas vezes de forma inconsciente, é claro.

Por isso eu reforço: os transtornos alimentares são patologias muito complexas, que requerem profissionais treinados no seu tratamento.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Paciente apresenta complicação rara dois anos após colocar banda gástrica



Atualmente, uma das opções para o tratamento cirúrgico da obesidade é a colocação da banda gástrica, um anel que envolve a parte superior do estômago, limitando seu espaço e gerando saciedade precoce. Um artigo que acabou de ser publicado na revista científica "The Lancet" (http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(11)61517-1/fulltext) apresentou o caso de uma paciente que desenvolveu sérias complicações pulmonares dois anos após a colocação da banda. Depois de uma longa investigação, a equipe médica concluiu que o problema era devido a uma má colocação do dispositivo, ocasionando aspirações recorrentes de comida que geraram cavitações pulmonares (são uma espécie de "buraco" que se formam nos pulmões, normalmente em decorrência de infecções).
Os autores do relato de caso disseram que complicações pulmonares são raras, porém podem acontecer, e muitas vezes podem ser confundidas com asma, já que os sintomas são semelhantes.
Mais uma vez, isso nos prova o quão valioso é o acompanhamento multiprofissional dos pacientes que optam por algum tipo de cirurgia de obesidade.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Adolescentes com anorexia nervosa podem apresentar maior dificuldade para tomar decisões


Estudo fresquinho publicado no "International Journal of Eating Disorders" observou um achado que é bastante comum na prática clínica dos transtornos alimentares: adolescentes internados com anorexia nervosa apresentaram maior dificuldade para tomar decisões de uma forma geral, e também para tomar decisões relacionadas ao seu próprio tratamento. A amostra contou com 35 adolescentes com anorexia nervosa e 40 adolescentes saudáveis, que preencheram o "MacArthur Competence Assessment Tool-Treatment" (instrumento usado para comparar habilidades de tomada de decisão).
Os resultados sugerem que adolescentes com anorexia nervosa tendem a pensar de forma mais concreta, envolvendo menor abstração e reflexão, o que pode interferir negativamente na tomada de decisão sobre o curso do próprio de tratamento.